Baden-Powell e o nascimento do Escotismo

Em uma entrevista a uma revista, em 1937, BP disse: "Na realidade não fui eu quem deu início ao escotismo, pois a coisa começou sozinha”; e continuou... “começou em 1908, mas a semente do Escotismo estava em mim muito antes disso. Quando eu era um menino na escola Charterhouse, divertia-me muito pegando coelhos com armadilhas nos bosques, onde não era permitido ir. Cozinhava-os e depois comia-os, e sobrevivi!”



Infância

Robert Stephenson Smyth Baden-Powell nasceu em Londres, Inglaterra, em 22 de fevereiro de 1857.

Seu pai era o Reverendo Baden Powell, professor em Oxford. Sua mãe era filha do Almirante Inglês W.T. Smyth. Seu bisavô tinha ido como colonizador aos Estados Unidos. Assim, Baden-Powell era descendente, por um lado, de um Padre Anglicano, e por outro lado, de um colonizador aventureiro.

BP era o quinto filho de 7. Quando ele nasceu, o mais velho tinha 14 anos, e as coisas não eram fáceis para a família, principalmente após a morte de seu pai, quando BP tinha 3 anos.

Com meros 8 anos escreveu: “Eu farei os pobres serem tão ricos quanto nós; e sei lhe dizer como ser uma pessoa boa, vou dizer agora: você deve orar a Deus quando puder, mas não será bom só rezando, deverá esforçar-se muito para ser bom”.


Baden Powell aos 16 anos

Robert viveu uma bela vida ao ar livre com seus irmãos, excursionando e acampando com eles em muitos lugares da Inglaterra.

Em 1870, após ganhar uma bolsa de estudos, BP ingressou na escola interna Charterhouse perto de Londres. Não era um estudante que se destacasse dos outros, mas era um dos mais espertos. Estava sempre metido em tudo que acontecia na hora do recreio, e ficou muito popular pela sua habilidade como goleiro do time da escola e dotes artísticos. Ele era conhecido como bom ator, e quando pediam, ele improvisava uma apresentação, que fazia todos rirem. Também tinha vocação para música e desenho.

Como ele mesmo disse: ele aproveitava as horas de folga, principalmente nos fins de semana quando muitos amigos iam para casa. Foi lá que ele aprendeu a apreciar a natureza e a arte de tocaia, subindo em árvores para se esconder dos professores.

Após ter dificuldades para entrar em faculdades, aos 19 anos BP entrou para o exército, tendo obtido resultados excelentes nas provas: ele era um soldado nato. Logo teve a oportunidade de ir à Índia como sub-tenente do 13o batalhão dos Hussardos em dezembro de 1876.


Baden Powell na Índia

Na Índia BP se tornou um ótimo cavaleiro, que o ajudou na tradicional “Caça ao Javali”. Essa era uma competição comum na Índia onde o indivíduo, montando seu cavalo, corria atrás de um javali, tendo que acertá-lo com uma lança na primeira tentativa, pois se errasse, certamente seria atacado pelo javali, causando a possível morte de seu cavalo. O Javali é conhecido como “O único animal que se atreve a beber água no mesmo bebedouro com um tigre”. Naquela época este tipo de competição era aceitável. Por ser um rapaz esforçado e que não desistia fácil, treinou bastante para conquistar o Troféu Kadir em 1883. Ele conseguiu.

BP ainda gostava de festas e de participar em peças teatrais. Também continuava a desaparecer no mato sozinho para observar animais.

Em 1884 seu regimento passou pela África do Sul a caminho da Inglaterra. Foi sua primeira vez lá, e aproveitou para conhecer os hábitos dos nativos (os Zulus) e aperfeiçoar suas técnicas. Ele havia se tornado Capitão aos 26 anos.

Logo em seguida passou algum tempo atuando como espião para o Governo Inglês, quando ele usou suas habilidades artísticas para disfarçar desenhos de fortificações inimigas em desenhos da natureza.


Combatendo na África

Em 1887 BP retornou à África, participando da campanha contra os Zulus. Recebeu o apelido de “M’hlala Panzi”: o homem que pensa antes de agir.

Em 1895 o Rei da feroz tribo Ashanti, da Costa do Ouro (oeste da África) começou a causar problemas, e Baden-Powell fez parte da expedição que marchou 150 milhas selva adentro. Foi aqui que ele conheceu um capitão da equipe de engenharia que usava um bastão (“Pole”) com marcas de polegadas e pés para ajudar na construção de pontes e pioneirias.

Alguns dizem que foi nesta campanha que BP aprendeu o cumprimento da mão esquerda, após receber esse cumprimento dos nativos. Este ato era uma demonstração de confiança, pois para oferecer a mão esquerda, era necessário abaixar o escudo.

Logo depois dessa batalha, foi participar de outra, contra a tribo Matabele. A esta altura, sua habilidade como guerreiro já era conhecida. Ganhou outro apelido, de “Impeesa”, o Lobo que nunca dorme, uma demonstração de que até os nativos respeitavam seu dom.


De Volta à Índia

BP assumiu o comando de um batalhão, o “5th Dragoon Guards” na Índia, e começou a ensinar suas habilidades de "Scout", um soldado que ia à frente investigar e averiguar a situação do terreno e do inimigo. No exército brasileiro essa pessoa chama-se "batedor". Os soldados que eram bons, ganhavam um distintivo.

Aproveitou para escrever um livro para militares, “Aids to Scouting” (“Dicas para Esclarecedores”), que levou à Inglaterra em 1899. Porém, antes de ser publicado, BP teve que embarcar para a África do Sul para entrar na Guerra contra os Boers.
 
Essa era uma guerra entre colonizadores Ingleses e Holandeses (“Boers”), ambos tentando obter controle da África do Sul. A função de BP era de convocar uma força de fronteira mas, durante esse trabalho, ele encontrou-se bloqueado na pequena cidade de Mafeking, cercado por um exército de 9000 Boers, com quase dez vezes mais homens que BP tinha.


O Cerco de Mafeking

O cerco durou 217 dias a partir de 13 de outubro de 1899. BP defendeu Mafeking cercado por forças esmagadoramente superiores do inimigo, utilizando diversas táticas criativas para confundir o inimigo e fazê-los acreditar que as forças inglesas eram bem maiores.

BP disse em uma entrevista: “Quando estávamos cercados em Mafeking em 1900, um dos oficiais pegou os meninos da cidadezinha e formou grupos de cadetes para que realizassem tarefas e carregassem mensagens e diversas outras coisas que ordenanças fazem, liberando, assim, os soldados para a luta. Lá descobrimos que, quando demonstramos confiança, os jovens eram tão capazes e confiáveis quanto os homens.”

Apesar de muitos não considerarem a batalha de Mafeking como sendo estrategicamente importante, ela capturou a atenção da Grã Bretanha, por meio de reportagens em jornal. Até esse ponto, a Grã Bretanha, a mais poderosa nação do mundo, não estava se dando muito bem na Guerra dos Boers, e era difícil para os Britânicos entender como que um punhado de colonos pudesse fazer frente a ela. Então, quando finalmente chegou a notícia: “Mafeking foi Liberada”, o país ficou louco de alegria. Instantaneamente BP virou um herói, especialmente entre os jovens ingleses, e foi promovido ao posto de Major-General.


Nasce o Escotismo

BP recebeu muitas cartas de crianças e adolescentes solicitando ajuda, perguntando sobre o sucesso dos grupos de cadetes mensageiros em Mafeking. Quando retornou à Inglaterra, descobriu que seu livro “Aids to Scouting” tinha ficado muito popular (apesar de ser feito para militares) e que as pessoas, e até escolas, estavam tentando praticar suas dicas e fazendo jogos de “scouting”.

Foi nesta hora que BP começou a ter algumas idéias de como isso poderia ser usado de uma forma positiva. Naquela época existia muita pobreza, especialmente em Londres. Os jovens tinham pouco que fazer, muitos nem iam à escola. Não existia televisão, rádio, internet. Na falta do que fazer, muitos jovens se agrupavam em gangues para fazer bagunça.

BP pesquisou muito sobre organizações para jovens e começou a visitar algumas. Uma de suas grandes fontes de inspiração foi Ernest Thompson Seton, um conhecido autor de aventuras. Este, um aventureiro Americano, havia fundado o movimento The Woodcraft Indians em 1902. Seton veio a auxiliar na fundação do escotismo nos Estados Unidos. Muitas idéias dos livros de Seton foram aproveitadas por BP.

Outro movimento de inspiração foi o Boys' Brigade (Brigada de Meninos), um movimento para jovens tipo soldados-mirins, liderados pelo Sir William Smith. Baden-Powell sugeriu ao Sir William que utiliza-se o “scouting” e outras atividades ao ar livre na programação do Boys' Brigade, em um esforço para aumentar o interesse. E Sir William, homem cheio de idéias e entusiasmo, foi quem sugeriu a Baden-Powell adaptar seu livro para ser usado por meninos. Ele perguntou a BP:
“Você poderia re-escrever ‘Aids to Scouting’, para que fosse mais interessante para os jovens, ao invés de soldados, e que fará deles homens de verdade e bons cidadãos?”.


Acampamento na ilha de Brownsea, em 1907

E foi isto que BP fez, então. Ele conta: “Mas antes de escrever, planejei e testei minhas idéias. Eu juntei uns vinte rapazes de todo tipo, alguns das escolas Eton e Harrow, alguns da Zona Leste de Londres, alguns meninos de fazenda e outros que trabalhavam em lojas, e misturei-os como passas em um bolo para que vivessem juntos em um camp. Eu queria ver até onde a idéia interessaria a diferentes garotos. Os resultados com os garotos naquele pequeno período ensinaram-me as possibilidades que um treinamento de “scout” tinha.


O Livro Scouting for Boys - Primeira Edição de 1908

Então imediatamente comecei a trabalhar, e escrevi “Scouting for Boys”, com a intenção de que fosse útil para organizações existentes, tais como Boys' Brigade, Church Lads Brigade (Brigada dos Meninos de Igreja), YMCA (Associação Cristã de Moços), entre outros. O livro saiu em fascículos quinzenais. Antes de todas as partes serem publicadas, comecei a receber cartas de jovens que decidiram entrar na brincadeira por si, jovens que não pertenciam a nenhum movimento. Durante o ano seguinte, meninos estavam me escrevendo para dizer que tinham formado Patrulhas e Tropas, e que haviam arrumado um homem para ser o Chefe deles.”


Nasce o "Movimento Escoteiro"

Em 1909, Baden Powell teve que abrir um escritório para coordenar e administrar esse movimento que surgia. Também organizou uma reunião de Scouts ao sul de Londres, em Crystal Palace. Para sua surpresa 11.000 apareceram. Outra surpresa: tinha muitas meninas. O registro delas foi permitido até que o movimento Bandeirante foi fundado pela irmã de BP, Agnes.

Então, em 1910 já com 53 anos de idade, BP passou a dedicar o resto de sua vida ao escotismo. Ele fez o máximo possível de visitas a Tropas já formadas. Em 1912 iniciou uma viajem por oito meses, inspecionando o escotismo na Índia, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. Depois veio seu casamento. Foi no dia 30 de Outubro de 1912 com Olave Soames. Ele tinha 55 anos e ela era bem mais jovem.

BP sempre dizia: “O Escotismo é um MOVIMENTO e não uma ORGANIZAÇÃO” (ele queria dizer que o Escotismo estava sempre mudando, de modo a se ajustar aos tempos). Isso só fazia crescer mais ainda o movimento até que em 1916 veio o Lobismo, para atender os irmãos menores dos escoteiros (7 a 11 anos).


O Escotismo se espalha pelo planeta

BP idealizou o Escotismo como um modo de formar melhores cidadãos para o Império Britânico. Porém, logo surgiram escoteiros em vários países como Chile, França, Alemanha, etc. No Brasil o Escotismo foi fundado em 1910 na cidade do Rio de Janeiro, sendo chamado de "Centro de Boy Scouts do Brasil", organizado por Suboficiais do encouraçados "Minas Gerais", "São Paulo" e a "Bahia" que, na Inglaterra, haviam estado em contato com o Movimento Escoteiro recém criado por Baden Powell.

A experiência traumática da Primeira Guerra Mundial levou BP a repensar o Escotismo, tentando transformá-lo em uma força a favor da paz mundial. Devido a tão grande seriedade de tudo isto, BP decidiu organizar algo a nível internacional. Veio então o Primeiro Acampamento Mundial de Escoteiros onde vários escoteiros de vários países se confraternizariam e acampariam no mesmo solo. Isso foi chamado de JAMBOREE. Em 1922, BP criou os “Rovers” (Pioneiros), com a publicação do livro ‘Rovering to Success’ (Caminho Para o Sucesso), direcionado a jovens adultos do movimento que queriam se manter ligados ao movimento de alguma forma após saírem dos escoteiros.

Em 1934 BP passou por uma arriscada operação. Após ela seu médico obrigou-o a descansar. BP decidiu viver no Kenya, em uma cabana em Nyeri. BP se sentia feliz em deixar o escotismo nas mão de jovens a quem confiava o seu futuro.

BP faleceu em paz no dia 8 de janeiro de 1941 (83 anos de idade), deixando a esposa Olave, um filho, Peter, e duas filhas, Heather e Betty. Tinha ganho medalhas e títulos de nobreza (Lord), mas acima de tudo criou o Escotismo, mesmo que no começo não foi de propósito. Publicou vários livros, em especial o ‘“Scouting for Boys”’. Apesar de ter algumas idéias antiquadas para hoje, você deve ler o livro, pois ele fala de aventuras e de como ser um bom escoteiro, coisas válidas até hoje. Um de seus maiores orgulhos foi o Movimento ter sobrevivido a duas Guerras Mundiais.

Soldados brancos e negros carregaram seu corpo até o túmulo no sopé do Monte Kenya. Uma placa memorial foi colocada na Abadia de Westminster, em Londres, onde os grandes são honrados e lembrados.

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